Cartão postal

Para qualquer olho curioso, debaixo do Flamboiã está a sombra, estão as pétalas caídas lavando o chão e salpicando de vermelho a grama cheia de viço. O olhar mais arguto talvez visualize o tridente torto desenhado, enlaçando de presságios o bucolismo do cenário.

O banco de cimento está metido em solidão apenas sentida de igual maneira pela mulher que se debruça no cais deserto, onde só o vento de um grande amor ausente ousa soprar. Ela parece esperar a chegada de alguém ou de algum navio de guerra.

Tudo se entrelaça com a passarela das cerejeiras, das flores rosas, do caminho do céu, do cheiro da felicidade... Tudo é ternura, suavidade, beleza... Tudo transborda.

Debaixo do Flamboiã não vejo o que os outros veem. Eu vejo o mundo, vejo o mapa, a estrada, a brancura dos cabelos, a roda-gigante,

o pé de laranja-lima, o vendaval, o arco-íris e os sinos da catedral.

Todo dia a vida conta uma história do beijo, do sangue, da saudade... Depois que o meu e o seu tempo tiver passado, depois que tiver passado o tempo dos nossos filhos e os filhos dos nossos filhos já estiverem velhos, ainda se fará soberano o cartão postal.

Talvez reste também o magnífico Flamboiã.

Borboletas azuis
Enviado por Borboletas azuis em 30/11/2018
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