Pequeno ensaio sobre fragilidade
Pequeno ensaio sobre fragilidade
Nos aninhamos em pessoas flexíveis, queremos por necessidade ou prazer, o abraço mais longo e mais íntimo possível, desses de alcançar a alma, o cerne, o lado latente, o expoente, o tronco inteiro e outros caminhos, não menos aprazíveis. Precisamos do encanto do olhar do outro, dos cuidados, dos caprichosos alentos. Incrível como somos ou ficamos pequenos, menores, emblemáticos e dependentes, quando os olhos do outro não colorem nossos sentimentos, numa invasão poderosa de intimidade e fomento.Nos aninhamos naquele que suporta nossa aparição fantasmagórica, num dia ruim ou numa conversão de disparidades. Somos em suma, o relicário surpreendente. Imprescindível que exista quem nos abra, quem nos encante, ou mesmo, quem levante as mãos em agradecimento por nosso mormaço ou por nosso inchaço. Nos aninhamos para reconhecer no colo do outro, a nossa energia mais límpida, o nosso processo mais desafiador. Nunca somos absolutos o suficiente, para seguir no frio dos percalços nas horas assombrosas e insanas, faz parte do ciclo ficar bem quietinho esperando o afeto, o afago, a entrada para dentro do peito. Mas somos fortes o bastante, para estabelecer a construção permanente de um castelo motivador, capaz de abrigar a nossa parte mais firme, que talvez viva fora de nós, feito uma planta que oferece todos seus nutrientes, mesmo arrancada da terra...Só precisamos de um ninho, água e muito carinho...
Maria Cristina J Silveira