Olho mágico

Houve um tempo em que, se batiam à minha porta, saía eu aos tropeços para abri-la. Não havia em minha porta olho mágico, não podia eu saber quem batia. Temia ser aquele que batia à porta um alguém muito esperado ou muito bem-vindo... e que, por demora minha em atender, tal visitante fosse embora.

Então, lá ia eu, correndo, abrir a porta ao que havia chamado. Mas, para decepção minha, grande parte dos visitantes tratava-se de pedintes, ávidos por dádivas sem quantia, mãos estendidas para receber, nunca para dar. Alguns, embora trouxessem no semblante bons motivos para bater à porta, logo me viam já se desculpavam: bateram à porta errada. Outros, poucos mas perigosos, mal davam pelo rosto de quem abrira a porta e já entravam residência adentro, aboletavam-se no sofá e punham-se a fazer exigências, como se donos da casa fossem... esses só a duras penas consegui por pra fora... e ainda assim, alguns voltaram a bater à porta, esperançosos de conseguir alojamento no mesmo lugar de outrora.

Outros tantos, ao verem a porta abrir-se, abriam largos sorrisos, estendiam presentes e saudações amáveis. A esses eu convidava então a entrar, instalava-os numa boa poltrona, trazia bolos e chás, apresentava toda a casa e compartilhava com eles boa parte do meu tempo. Desses, tal qual turistas, muito poucos voltaram... e só algumas vezes. Decerto rumaram para outras incontáveis habitações, buscando sempre a novidade em fartas porções que não se podem extrair de uma mesma morada por muito tempo.

O tempo passou e eu, cansada de pedintes, enganos, invasores e turistas, embora ainda me sobressalte quando ouço baterem à porta, não corro mais para abri-la. Aprendi que não se deve abrir a porta sem cercar-se de algum cuidado... embora tal lição possa parecer óbvia para o prezado leitor, é uma lição que nem todos trazem de antemão e que, tal qual as lições da escola, alguns demoram bastante para compreender.

Eis que, agora, batem à minha porta. Mas, tendo eu instalado um olho mágico, ponho-me a observar aquele que bate. Sou eu quem decide quando abrir a porta. Antes de abri-la, preciso certificar-me de que não se trata de um pedinte, um engano, um invasor... ou mesmo um turista. Terá aquele que chama paciência na espera? A paciência de esperar é uma virtude que só os de coração firme, constantes em seus objetivos, conseguem cultivar.