VENDENDO SORTE

Aquela mulher de olhos tristonhos,

Que vende sortes de loteria.

Fala em riquezas, promete sonhos...

Com o prêmio grande, que tem nas mãos...

Que ironia! Um contraste feito sentimento.

Enumera indigência que o mal encobre,

Fala em riqueza quem é tão pobre!

Promete ouro quem não tem nem pão!

De rua em rua, de comércio em comércio, na amarga luta.

Com o olhar no fundo que o pranto molha,

E a voz tão baixa, como uma prece, coitada, não consegue mais gritar.

Passa um banqueiro e nem olha.

Passa padre que agradece, mas não compra.

Passa o soldado que não a escuta.

Passa o poeta que ela o entristece.

Passa o médico que só lhe dá um sorriso amarelo.

Se a chuva cai, não lhe importa a roupa molhada.

Pois até se lava com a água que vem do céu.

Só os bilhetes é que ela poupa!

Nem a doença lhe dá sossego, mas ela vai...

Pois a pobreza não tem o que chamamos morte.

Pois esta é conhecida por descanso!?

A noite chega e ela vencida...

O ingrato fortificado ofício da luta em vão.

Ela retorna para casa, desiludida…

Ainda bem que ela tem um barraco!

Depois de haver lutado por um dia inteiro.

Vencida por tantos confrontos, vem a desilusão!

E a criança diz com voz trêmula: Tenho fome!

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 25/10/2018
Código do texto: T6486003
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