Estou doente.
Tenho estado doente de consciência. Sinto dores de saber que tudo passa. A consciência é uma fonte profunda de sofrimento. A ignorância é mesmo uma bênção. Desculpa se não atendo seus telefonemas. Não tenho ido ao trabalho. Estou doente. Tenho andado fraca e sem esperança. Estou doente.
Vagamente me lembro de um tempo em que eu vivia como se não fosse morrer jamais. Eu estava tranquila. Vivia com as pessoas como se elas não fossem morrer jamais. Não era ansiosa. Vivia os dias como se eles pudessem se repetir. Os momentos, efêmeros, não me doíam.
Pois é. Agora sei! E tudo me dói. Dói em meu peito porque sei que as pessoas vão sempre embora (pela morte ou pela vida). Dói em meu estômago porque sei que eu também vou embora (e dói mais se é pela morte). E dói em minha cabeça porque sei que os dias somente passam, jamais passam de novo.
Não tenho dormido bem. Mas tenho dormido muito. Penso em deixar a escola. Ela está me fazendo mal. Estou frágil. Tenho comido muito. Estou magra e pálida. Desculpa se não te recebo à porta. Estou doente. Temo espalhar minha moléstia pelo mundo. Os ignorantes são mesmo mais felizes.
A consciência não tem cura. Saber a verdade, mesmo que incompleta, chega a doer nas vísceras. A consciência suga a juventude. Pareço velha. Temo o inevitável: uma vez doente de consciência, ela se espalha tal qual um câncer. Reivindica para si todos os assuntos. Quer a tudo esclarecer.
A dor tem sido insuportável. Há dias de paralisia e noites em que me sinto explodir. Desculpa se não respondo seus convites. Estou uma má companhia. Estou velha e confusa. Doente.