Belmira do Jequitinhonha
Sozinha sentada na porta de um casebre,
no coração ressequido do Jequitinhonha,
vivia dona Belmira, mais conhecida como dona Mira.
Na cabeça um lenço de chita já bem antigo,
nas mãos envelhecidas pelos raios do sol,
um terço feito de grãos de mamona seca,
uma planta comum na região.
No terreiro de terra batida,
algumas galinhas caminhavam
buscando areia e outros tipos de alimentação.
Nos fundos da casinha, um pé de bananeira,
um tímido riacho já meio sem vida,
com suas águas enferrujadas.
Ao redor da casainha sertaneja,
uma cerquinha feita de bambu,
bem na entrada da querência,
uma porteira de arame jogada ao chão...
Um paiolzinho sem milho,
bem no cantinho dele,
uma gatinha amamentava os seus filhotes.
Um cachorrinho vira-lata de cor amarela,
Apelidado de Nhoco, por ser muito dorminhoco,
dormia quase em cima dos pés de dona Belmira.
No céu, lindas nuvens iam passando lentamente,
fazendo sombras aos raios do sol.
Mas chuva que era bom mesmo, há muito tempo não vinha.
Da porta da sala de onde estava sentada dona Belmira,
tinha uma visão panorâmica do vale ressequido.
Ela ficava observando as pessoas que ao longe passavam na estrada principal.
Eram crianças e gente grande que a pé iam a busca sabe lá de que.
Dalí da soleira da porta com terço, ela ia arrancando as aves Marias,
ia lapidando-as e mandando todas para céu.
Solitária, dona Belmira esperava crescer a batata doce,
aguardava chegar no ponto o mandiocal,
torcia para que o nhame plantado na biquinha crescesse
e que o feijão desse pelo menos alguns grãos para colocá-los na panela.
Meio faminta, dona Belmira rezava,
pedindo ao Pai do Céu que mandasse chuva,
e bênçãos para os seus filhos e seu esposo
que estavam no interior de São Paulo, cortando cana.
Pedia para que voltassem logo e com o minguado dinheirinho.
Pois lá, nem isso tinha!
Assim dona Belmira ia passando os seus dias no sertão ressequido.
Casa de pau-a-pique,
coração rezador,
fé autentica,
era a vida!
É isso aí!
Acácio Nunes