SEM TETO E SEM CHÃO
Mãos abertas para o nada,
pés ligeiros nas estradas empoeiradas,
olhares humildes e humilhados,
parecidos com os mendicantes.
O trabalho é quase uma esmola,
embora um direito, mas eles precisam pedir.
São os trabalhadores e trabalhadoras de comida gelada.
As casas ficam fechadas, silenciosas o dia todo.
Alguns filhos já estão junto de Deus,
o passaporte foi a diarréia, desnutrição, febre amarela,
chagas, malária...
Esse povo é considerado muitas vezes como forasteiro.
Lá longe, bem no interior do país, é ignorado, ou nas áreas da maquinação.
Ele é considerado pior do que os estrangeiros.
Esse povo vive neste imenso território, mas não tem teto e não tem chão.
Mercadoria pequena, come o necessário,
uma cama, uma televisão, uma geladeira, alguns colchões, um pedaço de lona e nada mais.
Não tem prazer e nem diversão.
Cria um vislumbre no sexo, o único prazer que ainda tem.
Está acostumado a sofrer, a ir de lá para cá e de cá para lá.
Assim é esse povo.
Mãos calejadas, pés descalços,
pelas terras dos outros ele vai a busca do pão.
Pão que sai do farto suor e do minguado salário.
Bem sedo ele está nas esquinas,
Não se sabe se irá ter trabalho ou não.
Vive da teimosia e do milagre da vida.
É uma imensa multidão sem rumo, sem voz e sem vez.
É uma multidão que vem de longe, vem de perto,
às vezes vem do lado dos nossos muros.
Pele queimada pelo sol,
olhar triste no horizonte desesperançado.
Crianças famintas, pais de barriga cheia de verminoses.
mães e pais sofridos e que não esquecem do Deus da vida.
Deve ser porque o Deus da vida vive com eles,
caso contrário, já teriam morrido!
É isso aí!
Acácio Nunes