BICHO DE PÉ
Era dolorido, mas era gostoso, sentir a coceira do bichinho.
Ficar tocando o dedo do pé na soleira da porta da cozinha da casa velha da vovó Maria.
Como eram bons esses gestos!
Era maravilhoso coçar às escondidas, ficar tocando o dedão sem parar no portal.
E ficar olhando para lá e para cá para ver se não tinha ninguém a observar.
Ao passar dos dias o bichinho ia crescendo,
Uma moranguinha ele ficava parecendo,
Já não dava mais para esconder o dedão inchado de tanto coçar!
Era nessas horas que papai aparecia!
Com seu canivete bem afiado, ia chuchando o bichinho, coitado!
Às vezes saía pela metade, às vezes inteirinha e ficava o buraco.
Querosene para desinfetar!
O lugar do bichinho ficava coçando, parecia que ali ele ainda estava morando.
Mas era ilusão! A coceira era boa, mas agora estava livre daquele azarado!
É isso aí!
Acácio Nunes