PRINCESA DOS CASTELOS DESFEITOS
- Princesa!
É assim que me chamam. - Por que?
Talvez porque tenham visto os meus castelos...
mas como, se eles só existem em meus sonhos?
Primeiro foi você quem me nomeou, e por isso, eu fiz de você o meu príncipe, e te imaginei lindo, como você realmente é!
E eu te vesti de armadura e te dei uma lança e um escudo para que você lutasse por mim e por nós.
Do nosso amor, foi o castelo mais lindo que eu construí.
Cheio de ilusões, de cores...enfim, um resumo de tudo que eu amava e achava lindo. Era um castelo magnífico! Explendido!
Tanto, que alguns passaram a invejá-lo, e se uniram para destruí-lo. Mas eu não os temi. Porque afinal, meu príncipe estava lá, e tinha a força do nosso amor para defende-lo.
E eu acreditava que ele era tão forte...
mas como é forte também a inveja e o ódio!
Meu príncipe lutou bravamente, e eu, ao seu lado.
Mas um inimigo cruel se aliou contra nós - o tempo!
E ele tinha uma arma poderosa, a persistência.
Não cansava nunca, nem dava descanso.
Um dia, enquanto contemplava meu príncipe, vi seu semblante diferente, parecia cansado, desanimado...então eu tremi,
e meus castelos também.
Até aquele que eu tinha dado o nome de felicidade.
Aliás, foi este que mais tremeu!
A sua fraqueza me contagiou e eu me perdi na imensidão dos meus castelos, dos meus sonhos.
Aí te procurei, e você estava tão distante, ainda na mesma posição.
E eu senti muito medo! E fugí, e corri sem parar!
E enquanto eu corria, escutava os estrondos dos meus castelos desmoronando.
Já bem longe, eu parei e olhei para eles, e só havia ruínas.
E de tão longe que eu estava, já não te avistava!
Então chorei a minha perda, chorei minha derrota.
Foi então que um amigo, um velho amigo, de quem eu já quase havia me esquecido, olhou-me nos olhos e estendeu-me a mão, e conversou muito comigo, e eu o ouvi, como há muito tempo não o ouvia!
Falou-me de outros castelos, mais duradouros e mais reais.
E eu os desejei! E encorajada por suas palavras, por sua certeza,
por sua amizade, eu me dispus a encontrá-los.
O tempo passou, e ainda me chamam de princesa.
Talvez por me verem construindo, com as pedras sólidas que restaram daquele castelo, pedras de pura experiência, novos castelos.
Não castelos de ilusões, mas castelos de ideais, que eu sei que se realizarão, pois já não confio mais em príncipes para defendê-los,
pois não dependo mais deles. Hoje, sei que a responsabilidade de ser feliz, também é minha.
Quando olho para trás, percebo que errei, mas fico feliz por ter achado o caminho, graças ao meu amigo. E com ele, ganhei muitos outros.
Mesmo, quando olho as sobras dos meus castelos de outrora, não posso dizer que fui infeliz.
Escrevi em 1982 após uma desilusão amorosa.