POEMA À MULHER
Todos te vêem. Todos te observam desde o primeiro movimento de teus pés na calçada de tua rua. Isto é só o início de teu reconhecimento. Percebe-te o vizinho bisbilhoteiro que não se cansa de espreitar tua beleza; percebe-te o trabalhador sisudo que caminha esperanças na mesma calçada de tua aparição; percebe-te o escolar que se surpreende com tanta sensualidade matutina.
Todos te vêem. Até o vendedor de amendoim, que ainda está instalando seus apetrechos para mais uma jornada de trabalho. Todos voltam seus olhares para aquela que arrebata corações e provoca suspiros. Teu andar é firme, seguro, ritmado; embora carregues uma leveza qual de ave, qual pluma esvoaçante nos ares. Tu esbanjas charme e sedução e não consegues passar incógnita.
Todos te vêem. Estás andando calmamente pela calçada e rumas em direção ao teu escritório de trabalho. Caminhas bela e jovial fazendo da rua a tua passarela da fama. Atrais os olhares alheios. Para teu corpo voltam-se as atenções. Tu paras o trânsito. Paras o trabalho dos peões da construção civil. Provocas comentários picantes e risinhos divertidos entre os estudantes movidos à picardia.
Todos te vêem. Tu nasceste para ser enxergada, observada. E os que te vêem, embasbacam-se. És uma bela mulher! És gazela saltitante nas pradarias verdejantes dos sonhos dos machos. Cada músculo teu se contrai nesta caminhada e dás a entrever um corpo bem torneado. À tua passagem, os olhos se voltam; os passos se encurtam; às vozes emudecem. Há quem perca a noção do tempo para observar-te, mas prossegues tua caminhada segura de ti.
Todos te vêem. E tu vives o dilema cruel de abandonar-te, entregar-te a tanto reconhecimento ou conscientizar-te dos limites de teu poder de sedução e tocar a tua vida sem sobressaltos. Comentam outras mulheres sobre ti; fazem gracinhas os estudantes; assobiam os trabalhadores; dão cantadas enigmáticas os estagiários de Direito à porta da Faculdade... E tu prossegues sempre em teu ritual diário de ir e vir pelas ruas do Centro da cidade a cuidar de teus afazeres.
Todos te vêem e tu não fechas os próprios olhos à realidade de seres vista, seres amada e seres desejada. Tu queres continuar sendo apreciada, por isso, a cada manhã, uma nova produção te acompanha pelas ruas. Seja num vestido elegante e clássico seja numa saia ou num jeans básico, sempre bem maquiada e com um penteado cuidado com esmero, lá estás correspondendo às expectativas do ser mulher. E a vida vai se tornando mais feliz e o bairro mais bonito com aquela mulher que lhe emprestava brilho e beleza...
Tu és aquela que acrescenta sonhos aos sonos de muita gente; és a que propõe esperança aos corações cansados; és a que empresta graça e leveza aos dias áridos. Mulher cumpra o teu destino. Seja tu mesma. Revista-te desta sensualidade latente que em ti está presente; carregue contigo sempre o sorriso da paz; distribua olhares do brilho do Sol que refulge em teu ser interior; apresente bonança nas tempestades dos dias; ofereça prazer, nem que sejam em migalhas, aos que atravessam o deserto de uma existência sem sabor.
És tu que mandas nos corações apaixonados. Teu corpo esguio e sensual torna prisioneiro os olhares gulosos dos homens que se deixam assaltar pela libido fora de hora (se é que tem hora para o amor). Estás presente em toda parte. Em cada canto do planeta, tu, mulher!, cantas a canção que suaviza os corações em dor; que propõe pausa para reflexão e amor no leito da paixão.
A cada renascer do dia tu, mulher!, propões com tua beleza e tua poesia uma nova alma no mundo das paixões. E o prazer que tu ofereces: no olhar, no sentir, no tocar, no amar ficará eternizado na memória dos que amam e nas lembranças dos que reconhecem o teu valor.
Sem ti o mundo seria vazio, a existência inóspita, o riso amarelo, a paz esfumaçada, o baile sem música, a festa sem dança, o vinho sem paladar...
Contigo, os olhos brilham, os lábios umedecem, o sorriso se escancara, o corpo efervesce, a libido é acionada e o prazer volta a encontrar liberdade...
Tu, mulher!, és o canto suave do canário silvestre no lago dos cisnes do amor, na cabana de sapê do alto da montanha dos sonhos...