blusa vermelha

Era um lugarejo bem distante, apenas três ruas.

Uma minúscula praça em frente a uma igrejinha,

Circundada por casinhas simples e conservadas.

Era agosto, dia do padroeiro e as ruazinhas apinhadas de gente.

Aos poucos os romeiros foram se dispersando,

E eu também tomei o meu rumo.

Já no meu quarto escutava as vozes indo ao longe,

E o burburinho próximo a minha janela foi se acalmando.

Apesar de estar sem sono, deite-me vencido pelo cansaço.

Prestava atenção nas conversas, nos gritos e nas risadas.

Começava a madrugada e alguém se recusava a se recolher,

E ouvia em bom som uma música sertaneja,

Onde a melodia falava de alguém que foi abandonado,

E que ao abrir o seu guarda roupa encontra uma blusa vermelha.

Fiquei pensando e tentando imaginar o perfil do ouvinte.

Poderia ser um jovem amargando a primeira paixão,

Alguém de meia idade querendo voltar com a amada,

Ou mesmo um de idade avançada recordando

Ou sentindo a perda do seu grande amor.

Adormeci. Levantei-me cedo com o cheirinho do café,

E após despedidas e promessas de retornar no ano seguinte,

Peguei a estrada e sempre pensava no infeliz amante e

Jamais saberei quem ouviu a música e curtiu sua dor de cotovelo.

carlos tiokal
Enviado por carlos tiokal em 27/06/2018
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