blusa vermelha
Era um lugarejo bem distante, apenas três ruas.
Uma minúscula praça em frente a uma igrejinha,
Circundada por casinhas simples e conservadas.
Era agosto, dia do padroeiro e as ruazinhas apinhadas de gente.
Aos poucos os romeiros foram se dispersando,
E eu também tomei o meu rumo.
Já no meu quarto escutava as vozes indo ao longe,
E o burburinho próximo a minha janela foi se acalmando.
Apesar de estar sem sono, deite-me vencido pelo cansaço.
Prestava atenção nas conversas, nos gritos e nas risadas.
Começava a madrugada e alguém se recusava a se recolher,
E ouvia em bom som uma música sertaneja,
Onde a melodia falava de alguém que foi abandonado,
E que ao abrir o seu guarda roupa encontra uma blusa vermelha.
Fiquei pensando e tentando imaginar o perfil do ouvinte.
Poderia ser um jovem amargando a primeira paixão,
Alguém de meia idade querendo voltar com a amada,
Ou mesmo um de idade avançada recordando
Ou sentindo a perda do seu grande amor.
Adormeci. Levantei-me cedo com o cheirinho do café,
E após despedidas e promessas de retornar no ano seguinte,
Peguei a estrada e sempre pensava no infeliz amante e
Jamais saberei quem ouviu a música e curtiu sua dor de cotovelo.