O trem
O trem ensaiava um apito.
Na verdade, era um lamento.
Triste. Bem triste...
Já se aproximava da estação,
Também, apitar pra quê, se não havia passageiros?
Talvez ele estivesse recordando,
Recordando do tempo em que ele era absoluto
Quando as pessoas acertavam seus relógios
As mocinhas casadoiras esperavam seus amados
Alguém nervoso uma encomenda
Um lenço branco dava um adeus.
E o burburinho à sua volta.
A plataforma lotada e ele já parando imaginava se
Estava trazendo ou se levaria alguém.
As pessoas sempre têm alguém no coração.
Soa a campainha e ele tem que partir.
Será que alguém ficou chorando?
Vai... Passa a cancela e ele nem para.
Ninguém mais o espera
Agora sim, seu apito é agonizante
Não encontra crianças acenando
Ele já é obsoleto, apenas uma curiosidade
E quando ele passa os pais gritam:
Olha filhinho... um trem.
(Antologia 2014 “passagem para o sonho”)