O trem

O trem ensaiava um apito.

Na verdade, era um lamento.

Triste. Bem triste...

Já se aproximava da estação,

Também, apitar pra quê, se não havia passageiros?

Talvez ele estivesse recordando,

Recordando do tempo em que ele era absoluto

Quando as pessoas acertavam seus relógios

As mocinhas casadoiras esperavam seus amados

Alguém nervoso uma encomenda

Um lenço branco dava um adeus.

E o burburinho à sua volta.

A plataforma lotada e ele já parando imaginava se

Estava trazendo ou se levaria alguém.

As pessoas sempre têm alguém no coração.

Soa a campainha e ele tem que partir.

Será que alguém ficou chorando?

Vai... Passa a cancela e ele nem para.

Ninguém mais o espera

Agora sim, seu apito é agonizante

Não encontra crianças acenando

Ele já é obsoleto, apenas uma curiosidade

E quando ele passa os pais gritam:

Olha filhinho... um trem.

(Antologia 2014 “passagem para o sonho”)

carlos tiokal
Enviado por carlos tiokal em 11/06/2018
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