A criança que em mim existiu
Quando era criança, sonhava ser professora... Ensinar as crianças a escrever e a ler. Saber usar a imaginação para fazer uma composição linda, que quando a professora a lesse perante a sala inteira, todos os que a ouvissem se sentissem a viver a história contada pela escrita inocente e maravilhosa de uma criança... Sonhei isso muitas vezes, mas a vida prega-nos partidas, e embora eu acabasse por trabalhar com as crianças, não foi da maneira que um dia havia sonhado... Queria ser professora, experimentar a intensidade das letras, dos números, dos desenhos e cores... Sentir o sabor das escritas inocentes daqueles corações puros... Queria sentir que com eles coloraria o mundo ... Mas virei educadora infantil... Lindo, maternal, maravilhoso, mas diferente, agora, eu tomava-as nos meus braços e embalava-as para adormecerem, dava-lhes o biberão, a papinha à boca e brincava com eles, ensinando-os a dar os primeiros passos e a dizer uma ou outra primeira palavra... Amei-os como se fossem meus, e durante anos foram... A minha felicidade era enorme, quase não cabia dentro do meu peito... Amei o que fazia e fiz durante anos... Nunca estagnei, porque o sonho não tinha sido realizado, no fundo estava a cumpri-lo de uma outra forma, e estava a fazer o que a criança em mim sempre desejou, lidar com CRIANÇAS... Mas no fundo da minha alma sentia-me como que tinha traído a criança que outrora fora, e que tanto desejava ter sido professora, fazendo coisas diferentes...
E um dia, no silêncio de mim mesma, conversei com a criança que em mim existe e que eu fora... E nessa conversa tão intima, tão nossa vi que ela se sentia deveras ORGULHOSA da pessoa que eu era e do que havia feito e fazia, e acima de tudo espelhava FELICIDADE, por não a ter abandonado, mas sim deixado tomar parte em todas as coisas que eu realizei na minha vida profissional com as crianças... Quando eu cantava para elas, dançava e brincava com elas, era ela que o fazia, ... Nunca deixei que os olhos dela através dos meus perdessem o brilho do amor pelo que amava fazer... E isso foi o que mais a emocionou e a fez nunca me abandonar... A criança que em mim existiu, existia, existirá sempre...
Eternamente!