XICO BODE

O Prefeito de Muçambê vem de uma prole que mantém o controle político da região há mais de cem anos. O primeiro chefe político da cidade foi o seu bisavô Tenório Bode. Seu bisneto no cargo de prefeito, é considerado bom sujeito, coração mole, bonachão, paizão, digamos populista. Em casa, porém, é um marido desmoralizado, dominado pela patroa, Dona Gertrudes, magérrima, 1.70m, pálida, ruiva, sardenta, determinada. Alagoana da cidade de Porto Catu, ex-vendedora de produtos da AVON, vendeu por muito tempo: patos, marrecos e galinhas; por isso era mais conhecida nos tempo de solteira por Gertrudes Galinheira.
O Senhor Prefeito em ex-magarefe, curso secundário incompleto, branco, loiro, 1.50m, 90 kilos, careca e bigodado, nascido de um romance desastrado do Zé do Bode com a mais badalada dançarina da cadade de Brejo Doce, mais conhecida como Clotilde do Zé do Bode, por esse motivo, o rebento herdou, já na barriga da mãe, o apelido de Xico Bode, aliás, o apelido de família que vem do seu bisavô, Tenório Bode.
Por ser filho de mãe solteira e de pai assassinado em comício, desconfia da própria sombra, e a sua maior frustração foi não ter conhecido a senhora sua mãe, Clotilde de Zé do Bode, que fugiu com um safoneiro para a cidade de Itaguá. Xico Bode sempre foi um sujeiro abastado; afinal, já vinha mamando nas tetas do municipio havia dezesseis anos: proprietário do açude, do matadouro, açougue, da bodega "Nova República"; dono também do prédio da delegacia, da casa paroquial, do terreno do cemitério. Vale ressaltar que o açude foi todo financiado pela SUDENE e construído em tempo recorde pelo DENOCS. Considerado o maior açude da região em extensão, tem água suficiente para suportar quatro anos de secas consecutivas e abastacer precariamente Muçambê. O açude é a sua principal fonte de votos: votou, bebeu; não votou, lascou-se, morreu.
Xico Bode, como seu pai, também tem uma amante ás escondidas. Apenas o Guarda Ambrósio é quem sabe das mofatras dele. Conhecida por Paloma, vulgo Pirrita, reside no lugarejo conhecido como Caxitoré.
Podemos qualificar Xico Bode de bastardo, abastado, individualista, hipócrita, adepto  do puxa-saquismo. Não tem amigos, adora reunir-se com seus secretários mais chegados (puxa-sacos), nas noites de sexta-feira, na bodega do seu Frutuoso, para financiar cervejas e cachaças, em troca de elogios baratos e risadas das suas piadas repisadas e sem graça.

Livro: A Vaquinha da Primeira Dama
Editora CEPE (1998)
Págs 20 e 21