Ladeiras de Ouro Preto

Quantas pedras

Quanto suor e sangue derramados nessas ladeiras

Suas igrejas frias e escuras

Meu lado barroco clama o seu cheiro de morfo

Sinto o perfume da pobreza de tanto ouro

Líquido assaz escorrendo nas mãos tortas

De Antônio Francisco Lisboa

Minhas expressões diante do mundo

Tem o olhar desconfiado e assustado

Das faces desenhadas por Ataíde

Em pleno século XXI passeio no XVIII

Ou é o contrário?

Ainda posso clamar por um amor impossível

Como Tomás Gonzaga sentado na escadaria

De frente a igreja São Francisco de Assis

Desfilava suas penas formando sonetos apaixonantes

Para sua Marília que nunca a teve Dirceu

Estou preso a esse tempo ou esse tempo que se prendeu no meu

Ainda leio as Cartas Chilenas nos dias de hoje

Critilo ainda vive e chora pelos mesmos motivos 300 anos depois

Sinto que ainda subo e desço suas ladeiras

Ouço gritos das senzalas e o rebate dos chicotes

O tilintar das correntes e as promessas de amor

O soar dos sinos e as orações em latim

Óh igreja, ainda ouço o revirar dos corpos putrefatos brancos arrependidos

Que se debatem sob os pés de suas beatas

Meu querido Joaquim José da Silva Xavier

Ainda há reis e súditos

Ainda há forcas de leis desfavoráveis

Arrastamos os dias vigiados por soldados de misérias

Ainda estupram a mãe natureza que ainda pari vis metais

Ah cidade, não sei se te amo ou se te odeio

És tão bela e triste

Tão quente e fria

Nuvens tentam te esconder todas as manhãs

Mas os crucifixos emergem de suas catedrais

E o Mestre ainda nos observa e mostra sua compaixão

Ele é duro

Resiste ao tempo e as mortes

Reside em mim

Que mesmo subindo e descendo ladeiras

Não deixo de crer em dias melhores

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 20/05/2018
Código do texto: T6341401
Classificação de conteúdo: seguro