sobre performance na praça tiradentes
entre fios embaraçados, alguns laços foram feitos. (alguns de nós, desatados).
dona Ludmila pediu que eu, por favor, a chamasse de “você”, desenrolando o novelo de lã. atravessando a barreira diplomática recomendada pela desproporção das nossas idades.
sentado no chão, como se o banco fosse muito capricho pra quem amassa latas vazias, Cristian maldizia o filho da puta que matou a Marielle; disse que se o que eu fazia era protesto, também queria participar; disse que só faltava a terceira via pra trazer seu amor; disse que eu perdi a linha (seguimos emaranhando).
as retas que convergem para o centro da praça são as mesmas que ressaltam nossas disparidades.
- geografia e privilégios (quase) ocultos.
a praça (dita de todos) nos abriga até a chuva cair; o toldo esquenta quem segue se abraçando; a casa, mesmo que pública, não acolhe quem não se sente proprietário; e placas invisíveis gritam na cara dos indivíduos que não encontram seus pares “não-sejam-bem-vindos”.
as retas se cruzam no que se diz humano; mas no que desumano, seguem paralelas.
procurar lugar ao sol justo num dia de chuva é tarefa pra artista mesmo...