A VAQUINHA DA PRIMEIRA DAMA

POR QUE ESTE LIVRO

Meu pai, militar destacado num vilarejo encravado no sertão cearense, com três meses dos seus soldos atrasados, ano 1958. Eu tinha exatamente seis anos, quando conheci de perto a estúpida e arruinadora seca. Marcou-me profundamente o que vi. Não entendia bem o que ocorria, mas era assustador o retrato da fome ampliado na miséria absuluta. Lembro-me nitidamente que não existiam cestas básicas, frentes de trabalho...E como não existia Televisão ou cobertura jornalistíca alguma  no interior do Ceará, tampouco aparecia político algum. O que havia na verdade era um povo acuado, abandonado, entregue á propria sorte, passando fome, mas mantendo a fé, esperança e, sobretudo, a dignidade. Foi alí, naquele purgatório, mesmo numa "posição privilegiada", pois, sendo filho de militar não dependia exclusivamente da roça para sobreviver, que aos seis anos comecei a odiar e temer profundamente a miséria.
Já com quase cinquenta anos, presenciando inúmeras secas, até hoje escuto a mesma ladainha, a mesma conversa fiada, cascata, balelas sobre soluções mirabolantes para acabar com a seca. É muito fácil combater a seca por e-mail e telefone com a bunda congelando no ar condicionado do Gabinete Político.
Quando resolvi escrever A vaquinha da primeira dama, minha preocupação primeira, não foi agradar a meia dúzia de intelectuais pedantes ou fazer política partidária barata. Na realidade, se trata de um grito contido há mais de 40 anos de quem estava de saco cheio de ver o conterrâneo vítima do infortúnio ser explorado via Embratel por políticotes em ano eleitoral.
Lí não sei onde a parábola de um beija-flor que lutava desesperadamente para apagar um incêndio na floresta, transportando no bico a água de uma poça encontrada nas proximidades. Quando alertado da ineficácia de todo seu esforço em apagar o fogo com uma irrisória quantidade de água aspergida, respondeu:
- Estou fazendo a minha parte.
Alguém pode se perguntar: Qual a eficácia de um livrete abordando tema repisado, de autor desluzido, desconhecido, para combater a seca? Repito o beija-flor: "Estou fazendo a minha parte". E se acontecer de um analfabeto político, somente um, influenciado pelo livrete que apresento, não vender mais o seu voto, me considero plenamente realizado, pois estarei contribuindo para a erradicação do URUBULÍTICO da seca. Estou fazendo a minha parte.

Continua...
Livro: A Vaquinha da Pimeira Dama
Págs 7/8
Editora CEPE (1998)

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