Ela e o vento.

Ela queria encontrar-se com o vento, ansiosa, perfumava-se e ensaiava seu melhor sorriso. Ele sempre vinha de longe e tinha o mundo todo para contar. Ao sabor de suas histórias, ela encerrava aquelas tardes sem pressa. Eram momentos sem hora, sorrisos sem razão e sonhos despertos.

O vento, emaranhava os cabelos negros dela com carícias furtivas e delicadas, soprava segredos fantásticos de outros mundos, e não raro assobiava canções de amor.

E uma vez mais ela sentou-se na varanda à espera dele, o mesmo ritual: na pele o cheiro doce de madeira e flores campestres, os risos certos para cada um dos momentos em que estariam juntos, a longa e negra cabeleira solta para que ele se divertisse...

Os minutos foram se alongando em intermináveis horas mornas e a paralisia da paisagem foi contagiando seu olhar. Risos foram tacitamente substituídos por lábios semicerrados que pareciam desbotar como a luz da tarde que se esvaía. A morosidade daquele momento sem movimento invadiu seu coração e os sonhos deram lugar aos questionamentos.

Então, o que restou a ela foi esperar a noite na esperança de que a luz artificial trouxesse um pouco de vida, ainda na varanda, tentou esquecer-se do frescor daquelas tardes, entregando-se ao calor da noite e enchendo de escuridão seu coração.

Renata Vasconcelos
Enviado por Renata Vasconcelos em 18/02/2018
Reeditado em 18/02/2018
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