Lições de 1972

Para vencer e a tristeza e a dor, pensei que precisava de um amor-injeção de adrenalina. Não dando isso certo – vendo-me sem saída – considerei até apelar para alguma toxina. Porém me provou a medicina que o que me faltava mesmo era muito sono e serotonina.

Pena que tardei para perceber o que agora parece tão evidente. É que uma mentira pode ter pernas longas quando se está doente. É fácil cair no lenga-lenga de que sozinho caminho outro que não a dor é inexistente. Sentir apenas pena de si mesmo e tornar-se, assim, um eterno, patético e injustiçado penitente.

Poderia ter evitado tantas e tão vergonhas asneiras. Que eu fiz e que tanto fizeram comigo, sempre me deixando aos prantos, sem eira nem beira. Se estivesse são não teria vacilado com aquela pouca gente companheira. E muito menos me sujeitado àquelas não tão poucas sujeitas rasteiras. Pessoas nada parceiras, que só querem perdão, mas não sabem perdoar nem as mais pequenas besteiras.

Pois agora me lembro o que o filósofo Ben disse em mil novecentos e setenta e dois. Que nosso primeiro intento há de ser ter paz e arroz, já que o amor é bom e vem sempre depois desses dois. Minha paz é lograr cerrar os olhos e meu arroz é ser capaz de – às enfermidades e aos comportamentos – dar nome aos bois.

Leonardo Ben
Enviado por Leonardo Ben em 18/02/2018
Reeditado em 18/02/2018
Código do texto: T6256996
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