APARÊNCIAS
Observe a armadura abandonada,
Pertence àquele moço sorridente,
Não precisa mais dela, por ora,
Encontrou abrigo noutra forma demente.
Agora ostenta a indumentária da bajulação,
Acercou-se dos notórios e vive de migalhas,
Aguarda o ensejo de ser aproveitado,
Menosprezo à turba de gentalhas!
Mal sabe o terrível destino que o espreita,
Mal sabe que os notóros são traiçoeiros,
Na primeira oportunidade será preterido,
Pertencerá ao imenso grupo dos prisioneiros.
E os notórios, por sua vez, continuarão,
Suas armaduras são pesadas e portentosas,
Todos vão ter com eles na vã esperança,
Suas mentes pérfidas acariciam almas penosas.
As promessas são acumuladas em depósitos,
Onde só o esquecimento tem acesso,
Sorriem às crianças como forma de simpatia,
Acreditam na hipocrisia como chave do sucesso.
Treinam os descendentes para a sucessão,
Incute-lhes conceitos de riqueza e pobreza,
Semeia nas férteis mentes juvenis,
Arranca-lhes qualquer resquício de pureza.
Não suportam a ascensão meritória,
Fecham as portas aos inteligentes,
Disciplinam os valores a serem seguidos,
Inibem os desejos e sonhos existentes.
Seus propósitos são a permanência no poder,
Só assim serão solicitados e venerados,
Desejam sempre mais do que precisam,
Divulgam seus acertos, ocultam os pecados.
E ainda conseguem reclinar-se no leito pomposo,
Deixando de lado a armadura usada durante o dia,
Em algum lugar da mente o sentimento foi aprisionado,
Alguns saudosistas, o lembram com nostalgia.