Estranho Olhar
Caminhante errante,
foi pelo arbítrio livre
que me impus para
essa vida em solidão.
Não foram os outros
senão eu que, por
não me achar, acabei
por essa vida, devagar,
em desatino a vagar...
À beira da estrada
sinto-me incrível,
invisível aqueles
que passam.
A roupa não é maltrapilha,
não sou um maltrapilho;
ser humano em diferente,
com a farda camuflada
da vida que escolhi.
Se sofro ferida, paciência,
cura-me o tempo, pois
aprendi que cicatrizes
são tatuagens naturais.
Como e bebo os restos
que me dão, ou não,
então procuro na lixeira
de quem nega-me o pão.
Banho creio faz mal
à saúde do errante;
mesmo assim a chuva não
desiste e insiste no molhar.
Estranho o teu estranho
olhar a olhar-me; poderoso
olhar, pois conseguiu
enxergar esse humilde
caminhante e lhe fez poesia...