Antonio de Albuquerque
Despedida

Não deveria existir despedida, que também quer dizer, conclusão fim, da forma que conhecemos, mas nada podemos fazer para amainar sua atuação, como conclusão, fim, sobre nossos sentimentos, a não ser buscando um equilíbrio emocional perfeito. Ainda não sei como ela foi concebida, mas quem a criou sabia estar originando um elemento desencadeador de sofrimento para quem por ela fosse atingido. Eu, em particular sinto o peito apertar numa luta sem trégua, ao ver um amor morrendo em solidão, e sou capaz de enfrentar mesmo quando ela se apresente formal em pessoas queridas.

Sei que a despedida está ligada formalmente aos sentimentos, e fico a pensar que sou a pessoa mais profundamente atingida quando me despeço de alguém que por alguma razão esteja ligada a mim. Então, precisamos um dia, encontrar um jeito mais fugaz de nos afastarmos das coisas que amamos, sejam pessoas, animais ou até de lugares onde vivemos.

Lembro-me de quando deixei o sertão, ainda criança, me despedindo das pessoas, dos animais, plantas, roseiras, objetos e lugares marcados por ternura e saudade, onde brincava aflorando mil pensamentos, fervilhando no sacrário das lembranças da minha memória. Entre as coisas que deixei no sertão, lembro com ternura do meu cachorro Burlante, companheiro de boas aventuras pelas montanhas secas do sertão.

Um dia ele morreu e eu fiquei sem entender andando pelos mesmos lugares em busca de ouvir pelo menos seu ladrado. Eu chorava, mas não deixava que percebessem. Acho que foi nessa despedida que aflorou em mim, o sentimento de perda, que ainda hoje sinto quando alguma pessoa querida se despede de mim. Após muitos anos de vivência, ao me despedir de alguém, indo para bem distante, e mesmo tendo uma compreensão mais ampla, também sofria, mesmo sabendo ser passageira, a dor e que brevemente estaria ali novamente, encontrando, assim, a alegria de viver.

Ao me despedir viajando para um distante país, por uma imperiosa necessidade senti a menor dor das despedidas, mas com o passar do tempo, chorava com o rosto encoberto por panos protetores da neve, para que as pessoas não percebessem. Quando regressei, senti a mesma sensação, ao deixar distante, amizades conquistadas e pessoas queridas. Hoje, nada mudou, quando uma pessoa amada se afasta, sinto a mesma impressão e o mesmo sentimento de perda.

Será que não seria melhor nos despedirmos sem formalidade e desencanto, dizendo! Até logo, até breve, Tchau, Fui... A gente se vê. No entanto, existem pessoas que temos uma ligação tão forte que até uma simples despedida de breve convivência, sentimos como se estivéssemos perdidos no tempo, pensando que sobre a Terra nada passa.
 
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 14/12/2017
Reeditado em 02/04/2019
Código do texto: T6199190
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