O HOMEM VERDADEIRO

"A mentira é uma capa, grande o bastante para cobrir toda as histórias e espaços, sob ela, somente os estômagos vazios/desiludidos, olhos lacrimosos/limpos conseguem sentir e enxergar as ilusões. A verdade não é um ponto de vista, mas um chicote que nos castiga e nos mantêm longe da loucura; doídos, mas lúcidos."

Havia um homem cansado, à beira de um mar, em busca de perguntas. Sua mente oscilava entre desejos e outras ilusões. Era novo, mas de cansaço avançado, aparentava ter a idade da revolução industrial, resplandecia certa luz de shopping center; nada nele era verdade, silêncio e paz.

Algumas frases perdidas, como por encanto do mar, reaparecem em sua mente, a grega: “Cuidar de Si” e a dos povos originários das Américas, o “Bem Viver”; antes mandamentos, sabedorias, hoje, vítimas esquecidas no museu das frases perseguidas pelo progresso. Contrastando com sua desventura, ele se descobre ainda escravizado, na ilusão da liberdade dos comerciais de bebidas, carros e outros gastos.

Em uma fração de tempo, ele compreende, e no silêncio meditativo da natureza, desperta para a essência do mais importante: o tempo consigo mesmo, o maior tesouro que os homens possuíam, mas, que o amor à ilusória pirita, roubou.

O centro do tempo é você consigo mesmo, e é no silêncio que conseguimos colher sabedorias, conselhos e impressões. Mas tempo e silêncio custam caros, preço de uma revolução, um luxo; por isso, todos os motivos para a alienação, obrigações, atenções e sons.

E o homem chorou seu engano: expurgou toda educação e formação pelos olhos, e seus ouvidos se abriram para ler as mensagens das vozes que constituíam o seu ser. E nunca mais foi o mesmo, e nunca mais se calou. Há, em nossos dias, um homem na beira de um mar recitando versos e parábolas.

Ivan Rodrigues dos Santos