QUANDO EU MORRER

Quando eu morrer,

Não me cruzem os braços,

Nem me entrelacem os dedos,

Deixe-os pendentes,

Um em cada lado do corpo,

Para que entre outras coisas,

Eu não pareça um morto.

Quando eu morrer!

Não me fechem os olhos,

Para que eu possa ver

Naqueles que estão ao meu redor,

A falsidade estampada em cada rosto.

Quando eu morrer!

Não me tampem as narinas com algodão,

Nem tão pouco os meus ouvidos,

Para que eu possa inalar

O ar poluído pela nicotina,

Daqueles que me cercam,

E ouvir as piadas

Sem graças dos presentes.

Que riem da minha sorte.

Quando eu morrer!

Não quero ouvir frases como:

Coitadinho! Era tão bonzinho!

Morreu tão jovem!Posso até com raiva,

Levantar do caixão e gritar:

Mentirosos, nunca fui bom

E nunca é cedo para morrer.

O importante é viver,

Mas já que temos que morrer,

Que importa a idade?

Quando eu morrer!

Não joguem flores no caixão,

Apesar de amá-las, é pura vaidade.

Não tenho nada contra, mas flores não.

Não vão ser elas a amenizar

Os meus pecados e levarem-me aos céus,

Nem tão pouco a minha culpa redimir,

Quando estiver frente a frente com DEUS.

Vão misturarem ao odor de meu corpo

Vão murcharem em cima do caixão,

E de nada me servirá, estou morto.

Quando eu morrer!

Não me enterrem na chuva,

Para que eu não confunda

As lágrimas que caem dos olhos

Daquele que realmente chora,

Com as lágrimas dos anjos que me levam.

Deste mundo que estou agora.

Quando eu morrer!

Se os meus dentes aparecerem,

Não fechem a minha boca.

Talvez eu queira gargalhar

Desta podridão de vida,

Deste mundo imundo.

Desta vida insana e louca.

Quando eu morrer!

Não cantem: segura na mão de Deus e vá,

Pois já fui à muito tempo.

Se catarem, eu juro que volto

Puto da vida, pois não quero ir

E todos mandando, implorando que vá.

Como se não me quisessem mais aqui.

Quando eu morrer!

Morri. Nada vai mudar

O meu estado de morto.

Nada vai dar-me o conforto,

Então prá que chorar,

Maldizer, e tentar consolar

Com frases vazias, ocas.

Quando eu morrer!

Coloquem em meu jazigo ou tumulo,

Em letras garrafais, num lugar visível

Aqui jaz um homem de caráter,

Não corrompeu, nem se deixou corromper

Que viveu e morreu como quis,

Pobre honrado e feliz.

Alagoa Grande, 14/03/93

Francisco Solange Fonseca.

FSFonseca
Enviado por FSFonseca em 15/11/2017
Código do texto: T6172630
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