A chuva e a flor
Fábio Costa

 
O chão molhado permitia sentir o cheiro da chuva.
Ela passou durante a madrugada e nas primeiras horas da manhã, ainda dava o ar da graça com alguns pingos.
No meu caminho estava a árvore desfolhada. Ela exibia a beleza das flores. Tipo estranho, mas belo. Quem disse que o belo é padronizado? Assim era a árvore. Estranha, mas de flores belas.
Parei para contemplar as cores, mesmo sem enxergá-las como são. Sem problemas. Quem disse que é preciso enxergar bem para ver a beleza da criação?
Ali estava a flor e a folha. Compunham o conjunto de galhos desfolhados. Exibiam os pingos de chuva e eles adornavam o misto de cores.
Aproximei com gentileza, afinal, a beleza da criação exige cuidado. Um pingo d’água insistia em ficar com a flor. Dependurado, fazia malabarismos para se sustentar naquele lugar.
Pensei nas lágrimas que já derramei. Em alguns momentos elas insistiam em manter o lugar cativo nos meus olhos. Não caíam. Era orgulho preso, ou mesmo fantasia da vida. Em outro momento não permitia que ficassem dependuradas nos meus olhos. Era sal da alma que precisava ser expulso.
A flor me remeteu ao choro, mas também ao sorriso. De tão bela que era eu sorri. Sorri para a flor e ela me devolveu seu sorriso. Encantou a alma que tanto chorou. Quem nunca chorou? Bobagem! Não se faça de forte. Todo mundo chora. Até Deus Filho chorou. Mas a flor me cativou.
Segui meu caminho mais leve. Tinha encontrado uma flor. Molhada, chorosa ou mesmo sorrindo, ela me ensinou – não perder os sentidos: o cheiro da chuva, a delicadeza da gota d’água, a beleza da flor, a árvore desfolhada, a folha verde cheia de vigor.
Se no caminho não vejo detalhes, corro o risco de chorar – não de alegria, mas sempre de dor. Dor por não ver o amor, nem a beleza divina, muito menos o meu valor.