ELA APARECEU COM O ALÍSIO DA MANHÃ.

 

 

 

 

Nada substitui o frescor e a carícia prazerosa do alísio que vem pelo mar do rumo sudeste.

Nesta manhã senti a necessidade de caminhar contra o vento, talvez uma necessidade inconsciente e totalmente subjetiva, querendo que ele arrastasse com as suas lufadas frescas e quase frias, para longe de mim certas sombras emocionais e teimosas.

Caminhei com uma gana, como se quisesse fazer de fato uma lavagem eólica interior, expulsando resquícios indesejáveis.

Como premio recebi um sorriso de alguém que vinha em sentido contrário, verdadeiramente um sorriso espontâneo e despojado.

 Esse sorriso agiu sobre mim de modo instantâneo e muito mais eficaz, do que uma sessão de psicanálise ou de um confiteor penitencial.

Minha alma ficou lavada.

Esse sorriso continha muito mais do que a princípio imaginei.

Amanhã farei a mesma caminhada, quem sabe, com muita sorte encontrarei o mesmo sorriso, com aquele rubor matinal combinando com o verde-mar.

Ela é esguia, mas não é magra, é elegante no andar, um pouco exibida, talvez estivesse desfilando para mim numa marcha sedutora, querendo impor a sua beleza de falsa nórdica, mas muito desejada.

Não é a primeira vez que a vejo, outra vez ela me apareceu do nada pedalando a sua bicicleta.

O sorriso era o mesmo, jovial e de uma malícia-menina, mas, a sua sensualidade bem esculpida, estava apoiada no selim da Monark com toda a realeza.

Ah! Como eu gostaria de ferir os seus olhos com os meus olhos que de cândidos e bons, agora já se encontram cansados e tristes.

Entre um desejo e outro, nutro a esperança de um dia poder beber o seu lindo sorriso líquido, e me estabelecer para sempre às sombras das suas eternas e arqueadas sobrancelhas.

Daqui para frente não me furtarei e, se for possível, eu gostaria ainda de sentir as carícias das polidas pedras de suas unhas, explorando o meu corpo sôfrego retribuindo-lhe com a sensação infinita de todos os prazeres possíveis.

Ela é loira e me instiga a uma louca insistência para vê-la, ela é nuvem intocável e passageira.

Mesmo assim, de vez em quando transitória é muito bom vê-la passar orgulhosa, como se fosse uma procissão de rimas tentadoras e perfeitas.

Mas consolo-me, porque ante os meus olhos cândidos e bons, talvez um pouco sofridos, quem sabe, melhor mesmo seria tê-la para todo o sempre.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eráclito Alírio da silveira
Enviado por Eráclito Alírio da silveira em 19/08/2007
Reeditado em 20/08/2007
Código do texto: T614466