A MALA

“Se eu pudesse, amá-la-ia” (a mala ia).

Houve um tempo em que o ir e vir da mala era vício de linguagem considerado cacofonia.

Hoje em dia, que sufoco, entre sons ambíguos de ais e uis, as malas vão

e voltam ocupadas por notinhas, ora verdes, ora azuis, quiçá de um alaranjado sem graça, pois que o valor nem é mais representativo.

Há muitos anos, herdei uma mala antiga... relíquia daquelas de couro,

com fechadura de chave simples (do tempo que ninguém se atrevia a abrir a mala alheia), pequena, simples, mas lindinha. Vazia.

Na minha primeira viagem de avião, pela VARIG, num tempo de voos com acento circunflexo e assentos confortáveis, pratos de porcelana e talheres de aço inox, com guardanapos de tecido adamascado estampados com a logomarca da empresa, minha mala também era de couro. Escolhida a dedo para o grande evento, a mala levava meus pertences para “passar uma tarde em Itapuã, ao sol que arde em Itapuã”, tomar banho nas águas límpidas do mar da praia da Barra da lendária Salvador da Bahia dos anos 70. Saudades!

Na época, as malas eram chics e acompanhavam a moda e as noivas...

ai delas que não tivessem no enxoval um jogo de malas condizente com

as viagens de luas de mel pelo Brasil e o mundo afora.

Ao longo de mais de 40 anos, algumas foram as malas que me acompanharam por este insensato mundo.

Na minha última viagem (há bom tempo, muito mais do que gostaria) comprei uma malinha nova... que permanece cheinha de novos roteiros

por plagas distantes...

"Pilas" não encontro nas malas, tomara encontrá-los na conta corrente,

na carteira, pois que andam escassos diante da crise geral, municipal, estadual, internacional.

Ah, se eu pudesse a mala ia... pra bem longe, pra qualquer dos roteiros sonhados, o quanto antes.