VERDADES E VELEIDADES - Margens Opostas

Uma outra vida chora em uma outra margem!

Todo rio desliza com suas borbulhas de dor e compaixão. Toda torrente zomba dos desesperos de homem enquanto a água pacata conhece a sede de quem sobrevive com a certeza de um fim. Assim, a canoa da vida, que singra o rio para uma terceira margem, remete-nos para as cascatas de dor daquele que não compartilha das nossas calmarias de domingo.

E se esse fim é o recomeço de uma mesma sofrida dimensão, outras águas virão!

Em cada margem, dos piqueniques dominicais, nossos íntimos deuses ainda não fizeram o bastante pela redenção dos nossos pecados divinais. Sempre haverá vidas em prantos, pois as águas nem sempre se fazem correnteza que nos levam a atravessar rios em busca de amenizar nossos desesperos.

Rio dual, agueiro de dores e orgias nas manhãs dos nossos míseros dias!

Poucos ou nenhuns seguirão barqueiros de infortúnio. Na varanda das conquistas da vida, sonhamos, criamos e queremos deuses de benevolência e prosperidade; mazelas humanas sempre será o oposto das nossas sonhadas margens. Sob a égide de cada deus individual, enquanto nossos pés são molhados por pacatas correntezas, queremos o gozo da brisa leve sob as sombras de pacatas árvores - árvores testemunhas de ocultas dores, de tenebrosos gozos... E de falsos amores!

E nossas frustações tendem a buscar ancoradouro na dor que margeia os infortúnios da vida!

Em cada noite sombria, ainda ecoa a prece medieval das ladainhas de verdade absoluta. Em cada altar de sacrifício, o pedido de gozo eterno se perpetua para os mortos; e os mortos não mais gozam do hedônico da vida. Luzes, chamas, oratórias... Somos todos barqueiros mortos-vivos querendo uma eternidade de gozos e harpas divinais.

E o paraíso vai se deteriorando sob nossos pés!

Daqui a pouco, baterão à minha porta com seus ares e perfumes de privilegiados. Trazem na mão a verdade impressa pelas mãos de homens; homens prometidos, refugiados nas cavernas refrigeradas. Em cada esquina, uma oração; em cada altar, um pedido de perdão...

Em cada margem a verdade com seus deuses no panteão... de plantão!

Nas profundezes de águas ainda desconhecidas, a vida vai afogando todos aqueles que tentam perpetuar verdades absolutas.

Kal Angelus
Enviado por Kal Angelus em 20/08/2017
Reeditado em 20/08/2017
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