Bela Criação

Estou girando, girando e girando através de nuvens densas de gás. Voltei ao início, voltei para ver a criação de mim e de meus átomos e de meu tempos e futuros possíveis. Voltei para ver os mistérios que habitavam-me quando não passava de uma possibilidade estranha, minúscula e inimaginável.

Grito seco no escuro imenso, enquanto assisto a cena da minha formação, quando então eu percebo, lá está o fenômeno, o meu jovem eu. Sinto uma dor no peito porquanto já senti o fel do futuro em meus lábios, em meu corpo e até na transcendência de minha alma. Assisto a consumição, a concretização do meu mal e a minha destruição, enquanto o universo se expande. É o gênesis do tudo e o apocalipse de mim em cerca de bilhares de anos que passam em segundos diante de meus olhos e por meus núcleos. As lágrimas escapam e flutuam na gigantesca necessidade de luminescência de uma memória dolorida e reprimida. Assisto à explosão, assisto à minha morte. A deformação causada pelo meu eu é tão magnifica e inexplicável que sinto-a mesmo a uma distância de uma identificação sincera. Observo enquanto sou puxado para o que irei me tornar, a luz não escapa e meu egoísmo ergue-se em majestade, tudo que posso terei e esmagarei sem escapatória. Me torno o buraco negro de mim e dos meus incontáveis milênios no universo em que fui criado. Sou arrastado e no horizonte de eventos dou adeus a esperança, não há salvação para a distorção que descobri ser, então a escuridão me invade, aceito-a e a me torno, sinto-me e sou...

Klethon Gomes
Enviado por Klethon Gomes em 01/08/2017
Reeditado em 01/08/2017
Código do texto: T6070735
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