ANDARILHO ERRANTE
Apesar de, à princípio, o destino lhe afigurar claro, agora, o roteiro da viagem já soa incerto e como andarilho errante “dom quixoteano”, em longa cruzada, toda vazada por digressões próprias, onde mais se perde quanto mais busca cumprir o objetivo inicial a que se propôs. Encontrar a porta para um mundo novo, muito melhor, dentro de si mesmo, desapontado com os alicerces até então obtidos na vida. A geometria em ziguezague de seus passos, assemelha-se a estrada de sua mente, destilada numa viagem por introspeção, unicamente direcionada para uma jornada da alma.
A retidão da estrada parece dissolvida, assim como o tempo, que se desmonta entre presente e passado buscando evitar a verdadeira e sólida certeza disfarçada. O pretexto da procura por algo além e impossível, é apenas um pano de fundo das lembranças que guarda de sua ex amada, e que tenta esquecer no álcool, ou exorcizá-la com outras mulheres, pagas por baixo preço, encontradas no caminho errante, onde o que mais se explicita são corpos obscuros celebrando o visível e o invisível na entrega animal, destituídos de qualquer sentimento, unicamente para cumprir sua determinação de solidão. A memória ganha contornos mais realistas, que se pudesse ser atravessada, através da sujeira da estrada acumulada no pára-brisa do veículo, como um depósito arqueológico, decifraria o que vai em sua alma, com as lembranças ainda vivas de um romance do qual ainda não se permite desapegar, o quão sublime foi o início quanto incerto o fim. E roda, como único companheiro, seu solitário carro, numa busca inútil, rolando em asfalto infinito atravessando o tórrido deserto, envolto em desolação seca, onde o que não é chão é céu e que se assemelha a um homem que já deixou de se amar, encerrado em sua própria solidão, mergulhado em insanidades, sem amarras nem desejos, numa viagem introspectiva, sem destino e nenhum ponto geográfico a atingir.
Quantos caminhos ainda serão necessários percorrer para se encontrar? Ou, melhor ainda, se libertar pela limpeza da mente ao atingir a insanidade total.