O JULGAMENTO DO TEMPO
Vim me assentar espontaneamente no banco dos réus. Subo no púlpito das redes sociais que anda por aí espalhando frases profundas para leitores rasos e me declaro condenado: sou culpado de um crime inafiançável. Bem que por ele afogado. Contudo, não venho sozinho, estou de braços postos em ordem de Pai Nosso, esperando meus companheiros de matança.
Quem me olha de lá, coroa de espinhos meus poucos cabelos pincelados de branco e arrancados pela canga das preocupações. Eis minha defesa: Montei no corcel das responsabilidades. Era dia. Bem cedo, pois, se a noite demora a recolher o arrebol, afobo-me em varrer do canto do olho as remelas das poucas horas de sono e aquele restinho de sono feito barro das bagunças da imaginação, como negra maquiagem de exército. Não pude ter consciência, afinal, refletir é coisa de gente atoa. Foi aí que matei.
Matei pisado, atropelado... como queira... o cultivo da amizade, o cantar dos pássaros, os sorrisos dos simples deslizes da etiqueta. Ganhei como recompensa as úlceras da rotina, as rugas gordas da face.