Teologia das elevações
Uma das ações sacerdotais que passa por vezes tácita aos olhos despercebidos dos fiéis, são as elevações das oferendas que, mais tarde, faz-se-ão o Corpo de Cristo, durante a Ceia Sagrada atualizada no tempo.
Dentre as muitas sensações abruptas que arrombam o sossego dos homens, uma tríade singular formou-se num pequeno espaço da imensidão, recorte santo revestido de mistério. Entre a assembleia devota e o sacerdote, estava o Cristo, pendido, agora, pelas
mãos ungidas de um singelo dispensador de mistérios. Em vez de manter-se atento aos palavrórios sagrados emanados dos vermelhos grimórios sacramentais, meus ouvidos inclinaram-se para dentro, esforçando-se em ouvir os rebeldes testemunhos do coração.
Isolando aquelas três realidades, ligadas pelo laço de humanidade e seduzidas pela sede de reticências existenciais, muito tinha a ensinar.
Oxalá Cristo estivesse sempre entre o ministro sagrado e seu rebanho! E se o Sagrado Pão transparente se fizesse, tornando os ministros sensíveis ao ponto de enxergar entre as pequenezas dos mortais a imagem do Redentor, bem mais que o pecado pungente... E ao reverso, a grei olhasse para seu pastor tendo em mente o Cristo nele encarnado,
pintando na nudeza de suas limitações a divina santidade do verdadeiro Sumo Sacerdote.
Era o padre, era o povo mas, no meio deles, silencioso, vivia Jesus. Elevado, suprassume consigo nossa inteireza, corações ao alto e companhia limitada. Quisera, igualmente, que os olhos, pórticos da alma, tanto do ministro quanto das igrejas que entoam hosanas, estivessem sempre focados no Mestre da Vida. Quantos ensinamentos num único derradeiro momento, reverberando nas inúmeras ações sagradas!
Muito mais profícuas e intensas seriam nossas vivências cristãs se olhássemos para as elevações da forma correta. São os olhos de Maria fixos no Amado- Filho, cruzados com os do Amado perdoando (misericordiando) seus humanos torturadores. Com estes olhos
queria ater-me aquela elevação. Quantas delas passadas para aprender essa lição! São os mistérios da fé.
Por fim, achando-me já saciado de tamanho banquete, envolvi-me com mais dois olhos pairando entre nós. Eram do ressuscitado, olhar sereno e humilde na espécie do Corpo e Sangue. Nada mais havia a dizer. Quiséramos nós alcançar tal estágio de fé, que pudêssemos viver inteiramente a vida Nele. A ponto de dizermos como Paulo, não sou eu
quem vivo, é Cristo que vive em mim.
Destarte, entre nós pintou-se a bela imagem esforçada aqui. Não sei se foram devaneios ou carências de temor, apenas afirmo que nunca mais vivi as elevações como dantes. Olhar para o mundo eucaristizando-o foi a grande lição anotada sem pincel no coração, sepultada viva com um passado e guardada no baú dos ensinamentos. Foi a primeira
teologia das elevações