Prosa alheia
Espero para que os versos caiam no papel como gotas de estalactites, a prosa vai surgindo no intervalo de sentir sem pensamento, cada palavra é um mistério que vai nascendo e ganhando existência no vazio do papel branco. Penso no riacho que deságua ao longe, na campina que verdeja o horizonte, como se eu estivesse por mim mesmo pensando. Penso ou sou pensado? Nascem as palavras, vão aparecendo como num passe de mágica. Sou eu ou ilusão?
O esforço para perseverar no ser torna minha existência - que já é o que é - mais pesada de se viver. Quero ser, mas já sou. Sinto que não sou. É justamente nesse sentido de "minha existência" que o peso se concentra. Ser alguém, eis o peso. Mas quem?
Saber não conforta, não livra a alma de seu pesadelo, que ao ver-se com a realidade nas mãos sente-se insegura ao ver o saber esmagado pela realidade, e lança-a a si mesma para longe da vida que é ela mesma.
Leio o que escrevi sem ideia de como a prosa tomou o rumo que tomou; um vazio, agora mais consciente e presente, se faz visível nas linhas que vou tecendo. Meus pensamentos vão passando pela estrada da imaginação como o vento, enquanto vejo-os passando da janela de minha alma, aceno de longe em silêncio. Vão indo e vindo, passam como gente na rua - anônimos e reclusos, embriagados de ilusão.
Escrevo o que me vai vindo pela mente, se faz sentido ou não, não é importante, pois o sentido nasce enquanto se cria escrevendo, depois tudo é nada, sombras de momentos...
Como um broto de uma flor que cresce naturalmente vou escrevendo, pensando-me e esquecendo, desabrochando-me em versos para despedaçá-los como pétalas ao vento.
"A vida floresce na instância de cada momento"