... E o vento...
O vento soprou lembranças sobrepostas, de um destino puro. O vento faiscava brisa, pós e imagens perdidas. O mar levava e trazia tantos anos submersos em saudades insaciadas! Andanças, idas e vindas.. Chegadas. Em portos diversos....
Pés: pegadas.. estampadas em uma areia branquinha... tatuada por pés descalços. O vento tecia nos cabelos um certo ar de surrealidade; brincava com os fios dourados... O sol faiscava versos de um poema recém escrito, na pele negra da moça. Os olhos brindavam com o mar à vida e à alvidez da areia... a imensidão do céu, pregado na água, se fingindo de horizonte.
Olhos imensos... imersos.. em um passado bordado em sentimentalidades antigas e recém-descobertas. Os olhos, sempre olhos abertos.... encontrando detalhes naquelas mesmas estradas tão já calejadas pelos mesmos pés de borbolhas grossas....
os pés, os passos... pedaços. Um céu aberto.. águas misturadas.. de rio, de mar, de Oceano: Porto.... partidas... partidos versos em mares distantes e inavegáveis. Corações-metades-pedaços....
E ela sentiu que ele a amava... mesmo numa garrafa, dentro uma carta velha, com versos bordados a mão, escritos em épocas diferentes. Mas o vento veio de tão longe... e tão disperso... e tão profundo... que ela se embalou nos seus cabelos negros e ao mesmo tempo esvoaçados...E a lágrima que caiu previu: amor inacabado... eterno.. de eras intransponíveis... de geografias distintas. Mas ele morava no Rio....