PODERIO
Até poderias, mas envergas sob a adorável pena do desejo a coluna que sustenta teu espírito. No mais, por não suportardes, elevas do próprio peso asas de Mercúrio e segue, como toda gente, aspirando a saída para o gerúndio que se transformou tua vida.
Sei porque sou um deus sem asas, um semideus autista. Sou aquele que cegou os próprios olhos para entrar na floresta do alheamento, sou os olhos de Prometeu em cada cabeça da Hidra de Lerna. Sou o flautista e a corja que o segue feliz por não ver mais.
Eu poderia tanto, poderio, mas também 'eu' não é.
Não sou mais que o terceiro reflexo teu na poça rasa onde pisas. Sou do poder, algo que esvai. Sou quem pensas que és. Sou ele, ela. Sou outro eu, tu, nós e os outros sujeitos amalgamados temporariamente no que há de eterno num traço de vontade da alma.
Baltazar