Paisagens da Alma XX
Ele brincava com as pedrinhas, jogava-as para o alto e dava um tapa, e ria ao ver a pedrinha rolando no chão. Se mexia o tempo inteiro, passava o braço no nariz, levantava e saía correndo, fazendo barulhos de explosões. Pegava um graveto e batia no chão, olhava em volta, olhos curiosos, voltava a bater com o graveto no chão. Eu, que naquele momento não era eu, era todo o exterior que meus olhos viam, sentia apenas ternura no coração, movimentava-me o ser naquele ser. Não éramos sujeito e objeto. Eu o via, mas não com os olhos, eu via com os olhos da alma, que desaparecia nos risinhos agudos que ele soltava toda vez que lançava no alto uma pedrinha.
Esquecia-me a vida na coexistência com ele, e por consequência, com tudo. Então ele olha-me nos olhos de longe e sorri, acenando jóia, sentado em cima de um morrinho de pedras, e em seguida me esquece como se nunca estivesse estado ali, nem eu e nem ele, retirando-se num galope de cavalo imaginário.
Vou retornando como se de um sonho, e como que caindo lentamente num sono e fui voltando a mim, e vi-me triste e dividido, porque já não conseguia mais esquecer, como ele...