Paisagens da Alma XVIII

É pico de madrugada, hora silenciosa. Silêncio que ouço quebrar vez ou outra pelos latidos e cacarejos que, sonâmbulos, viajam até mim já disformes como ecos de eco. Dorme a cidade inteira sob o manto negro reluzido por pouquíssimas estrelas que pairam lá no fundo do vazio esquecidas, brilham inconscientes, ofuscadas pelo luar que derrama sua luz lívida por sobre a cabeça dos espíritos que dormem na inconsciência do sono, buscando nos sonhos subterfúgios dos males viventes...

Ouço ou sinto, não sei, um agudo intenso ir aumentando dentro dos ouvidos, dentro da cabeça, uma pressão como coroa de espinhos que descesse até o nariz, tira-me a atenção, penso e sinto, confundo. A noite passa e eu escrevo com cara de rabugento e olhar sonolento, sozinho a escutar o som do caminhão que sai quebrando o silêncio das ruas de qualquer bairro esquecido.

Me sinto nulo, sensações mínimas: peso do corpo e incômodos musculares, o estômago que se contorce, os olhos ardem como brasas, mais nada.

Onde estou eu? Perco-me de mim, sou para mim, neste momento, como o céu que vejo: distante, profundo, vasto, pequeno, estreito...

Fiódor
Enviado por Fiódor em 22/03/2016
Reeditado em 02/06/2023
Código do texto: T5581359
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