Liberdade vigiada

Não, não pelo buraco da fechadura

Pela desconfiança de quem ao lado acorda

Inércia da lente, potente, no alto instalada

Estática presa, na árvore escondida

Na moita, na noite, à espreita, vigiam

Não, não pelo buraco da fechadura

Nem pelo celular em seu bolso, desperta, rastreia

Te segue, atravessa a rua, seu banho assistido, escancarado

Vida que não é sua, vida que é armadilha, vitrine crua

Horas contadas, passos marcados, cumprimentos

Não, não pelo buraco da fechadura

Livre quem se engana e insiste no íntimo, esconde

Nem em sonho, espiões, morno legado de guerra fria

Não importa, adiante e se esconda, seu rastro é denúncia

Da liberdade que achamos que temos, privacidade perdida

Não

Não pelo buraco da fechadura.