Mudança...

Mudanças acontecem na vida de muita gente, mas Dona Francisca dizia que aquela mudança seria muito boa para seus filhos. Os meninos, que não eram poucos, teriam a oportunidade de estudar, coisa que os velhos, dizia ela, nunca tiveram nenhuma. A vida que levavam na casinha que tinham na Chã dos Vianas não era de toda, ruim. A casa era até muito boa, comparada com outras que Seu Pedro e Dona Francisca moraram.

Como foi sofrido construir aquela casa, era sempre o que Dona Francisca dizia. A maior parte do material foi carregada em caixotes de madeira no lombo do jumento. O barro para fazer os adobos, as pedras, a água, pois era o único meio de transporte que havia na época, ou melhor, o que atendia as necessidades do casal.

Casa grande com oito cômodos, sendo uma varanda, não muito espaçosa, com um peitoril e uma portinhola de madeira de tamboril para evitar a entrada das cabras e porcos que criavam. Um cômodo junto à varanda com uma janela enorme que Seu Pedro utilizaria como uma quitanda, algo que nunca se concretizou.

A casa ainda tinha duas salas amplas. Uma de chegada e a outra de jantar. Além de duas alcovas, sendo uma para as meninas e a outra para o casal. Os meninos que armassem suas redes na sala. E finalizava com uma cozinha pequena e uma despensa para guarda os comestíveis. A cozinha apenas com um fogão de barro com uma chapa de ferro com quatro bocas, um luxo, e um jirau feito de toras de piquiá que funcionava como pia para lavar os poucos utensílios domésticos que tinham. A despensa era minúscula. Mal cabia o enorme caixão de tábuas de cedro para guardar farinha. No mesmo também se colocava as rapaduras junto com a farinha para não melar com o tempo frio do inverno. O feijão era posto na areia em enormes surrões de palha. Já o milho era posto em grandes paióis no fundo do quintal.

Um sonho realizado dizia Dona Francisca que não media esforços para o bem de sua família. Sempre sonhadora e batalhadora. Passava a noite quase toda descaroçando o algodão, acordava cedo para batê-lo com duas varetas de buriti, depois fiar, fazer os punhos para botar na rede de três panos tecida no tear, por sua amiga Maria.

Na casa não tinha luxo, mas tinha fartura. Seu Pedro não escolhia serviço, fazia de um, tudo. Era sábio em muitas artes. Sabia torrar a massa para fazer a farinha, cozinhar a garapa para fazer a rapadura. Era pedreiro, carpinteiro, caçador e o principal, lavrador. Acordavam sempre bem cedo, pois tinham muitas bocas para alimentar.

O ruim era em tempos de seca. Mas quem trabalha Deus não desampara. Sempre tementes a Deus, tinham fé que tudo daria certo. E com a seca a vida era difícil. Água de beber não era problema, pois na comunidade havia a nascente da Cabeceira com água pura e cristalina. A questão era o que comer. Não era fácil, mas o casal nunca deixou os filhos passar fome.

__ Homem vá atrás de algumas caças pra fazer um pirão para os meninos! Depois Seu Pedro aparecia com um preá, uma nambu, uma juriti e raramente chegava com as mãos abanando. E com a farinha, que era menos escassa, se fazia muita coisa pirão, paçoca, mingau da caridade, grolado e outras iguarias.

Os velhos deram um duro danado para criar os oito filhos. Dona Francisca que havia sofrido muito na infância queria um futuro diferente para os filhos. Queria que os meninos estudassem. Se ficassem ali estariam condenados à mesma sorte.

__ Pedro, vamos embora para a cidade de Pedro II!

__ Tá doida mulher! E vamos deixar a nossa casa aqui depois de tanto sofrimento!

__ Sofrimento que não quero que meus filhos passem. Precisamos dá a eles uma oportunidade diferente, de estudar, de ser gente. Se eu não fizer isso vou me arrepender pelo resto da minha vida. Se ao menos um conseguir vencer, já terá valido o sacrifício.

Não teve jeito Seu Pedro comprou um pedaço de terra na cidade de um sobrinho e deu início a uma nova história.

Barros Nasimento
Enviado por Barros Nasimento em 12/01/2016
Reeditado em 12/01/2016
Código do texto: T5508411
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