Tipos de Luzes (19.11.2015)
Não há comparação entre uma estrela e uma lâmpada. Falando assim superficialmente, é até possível dizer que elas são iguais, à noite - as estrelas no céu e as lâmpadas na cidade - ao longe, em um morro distante ou quando você está em algum lugar alto e com uma boa vista de todas as lâmpadas da cidade. Como se uma refletisse a outra, as estrelas no céu e as lâmpadas aqui, como um mar. Mas qualquer um que sabe dos encantos das estrelas dirá que isso é um disparate, não há poemas sobre lâmpadas, não há grandes histórias, longas distancias infinitas e misteriosas sobre lâmpadas. Ninguém faz pedidos a lâmpadas. Ninguém se deita na grama para admirar as lâmpadas. As lâmpadas não produzem sonhos à noite, nem desejos incompreendidos. Não existem lâmpadas cadentes (no máximo, uma incandescente). Mas não há, exatamente, quando vemos a olho nu, nenhuma diferença aparente entre uma estrela e uma lâmpada. Só existe toda a teoria sobre lâmpadas, toda a física. E toda a física das estrelas, e também seus imaginários infinitos. Toda diferença é do sonho, do sentimento. Uma estrela é uma luz profunda e misteriosa, que existe, existiu e existirá. É uma faísca incompreensível, uma vontade de se lançar ao desconhecido, de viver mais fundo em nós mesmos. Uma lâmpada queima, nós podemos segurá-la na mão, não há grandes mistérios nisso, é uma superfície que podemos construir. Fazer uma, duas, cem, mil. Produzir em massa. E vender. E comprar, e trocar, e procurar novos brilhos, novas cores. Mas não podemos criar ou construir estrelas. Não há nada de profundo sobre as lâmpadas, a não ser todo seu conhecimento e só. Mas nós amamos o desconhecido e é só nele que nós podemos nos lançar novos, incertos. Esperando por coisas tão diferentes que nem podemos sonhar, é só um fiapo de vida que pode se estender ao infinito, por gerações e gerações. As lâmpadas não produzem encanto, nem magia. São luzes falsas.