DERRADEIRA

Eis a verdadeira imagem, no oásis que em mim se passa, ainda encontro sua miragem.

Cristalizada nos breves momentos em que não mordi as uvas , um gosto de vinho permeando a minha boca, mesmo que as tais uvas fossem passas. E sim, você não passa, paira sobre e dentro de mim. Constitui as garrafas que tem meus líquidos soltos, envoltos, na alegria de beber-te.

Insistem ainda os goles, as taças, os talheres, as vidraças dos jantares sedentos. Suculentas as carnes que se queimam entre as coxas; línguas que se atiçam e aspiram a outra boca sorvendo salivas cujo pH ainda é igual ao seu gosto ácido.

Assim que se formam as cenas do seu corpo na minha cabeça, formas que levo ao forno todas acesas e intensas. Seu doce assa em banho maria, poesia de lamber os dedos até se fartar de açúcares e afetos, objetos seus sem protestos entram nas minhas arestas. Arepas se derretem nas minhas panelas e eu entendo sobre epicentros vulcânicos.

Comprimo meus olhos ilhados que não sozinhos pois enxergam seu istmo, um braço que de mim toma posse e me faz carinho nas águas que fervem. Espumas, glacê, gemas, neve de claras, na claridade dos contornos que sempre haverão de me conter.

Espinhas se tornam escadas, degraus pra chegar no teto que geme e grita de prazer. Sonho que escorre tinto, mais vernáculo que oráculo, meu ser que se modela e cria uma costela a mais em você. Não que eu queira ser Eva, a primeira; mas gosto de fins, desfechos, de ser a derradeira. Persigo um epílogo que me encoste enfim no seu corpo como um logo, patente, tatuagem, uma linguagem não reticente.

Helena Istiraneopulos
Enviado por Helena Istiraneopulos em 27/06/2007
Código do texto: T543366
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