Não venha...

Quando te chamar, quando a fome apertar

E a lágrima cair, morna em tua face tão fria

Não venha, quando anoitecer e o coração se perder

E só assim sentir a falta minha, não estarei aqui...

Terei vendido minhas asas, cansada de esperas

Guardarei quimeras entre flores azuis da primavera

Não venha quando te chamar, prefiro o clarear de velas

A escuridão não assusta mais, nem a tempestade na noite

Clareando o quarto, trazendo sombras esquecidas, maltratadas

Maltrata-me não vês? A cada segundo que passa, que a voz se perde

Cala, em meus ouvidos essa distância que não volta mais

Suporte meu ais, meus gritos, minhas lástimas e misérias

Meu adentrar em tua casa, revirando teu pensar, lá me encontro

E não preciso mais te chamar, ouça o silêncio que lhe faz bem

Ele me incomoda, agora menos, me acostumei com horas vazias

Com essa falta de palavras, migalhas algumas vezes ofertada

Desculpa, mas com voz leve, não alcanço teus sentidos

É preciso gritar para que ouça minhas lamúrias escondidas

Que se mostram na poesia incisiva, rasgando veias e verbos

Depois se acomodando, exausta, na solidão de mais um dia.