Manhã de 10 de maio de 2015
(como hippie que dança rap sendo “happy”)
Resolvi pintar, eram duas e vinte da madrugada. Uma água gelada, uma tela média e nua e rumo à varanda. Noite calma de lua escura, céu nublado e gatos passeando pelos telhados. Noite bucólica trazendo pensamentos com cheiros de saudade e maresia; noite minha extremamente minha, céu meu amenamente meu; sossego absoluto e o som baixo e fleuma do breu. Todavia, por toda vida me entreguei ao vasto. Não existia meio termo, ou era branco ou era preto; o cinza não estaria no meio, pois simplesmente não existia. Atualmente adaptei meu ser no colorido do mundo, como um cego que volta a ver. Posso então tirar pássaros e elefantes da cartola, não só coelhos; posso então abrigar a alma, e ter amigos dentro do coração e não somente mergulhados em boemias e copos. Faço uma amizade menos presente mas mais autêntica, sem barganhas e bagulhos, sem armadilhas de egos, vista grossa ou criação de cobras. A vida se expôs e expôs opções nada parcas... Eu abracei-as com veracidade, gratidão e doação... Então assim pude/quis finalmente me conhecer por quase completo... Por mais terrível que pudesse ser.
As marcas das pinceladas rápidas começaram a surtir efeito na tela, eram tons dominantes de azul turquesa (que gosto muito) com gradações mistas de marrom, branco e variantes de azul escuro e verde musgo. Tudo isso só para recriar um mar bravio que estava na tela da mente –, na parte por de trás da testa –, como costumo dizer. Em um pesadelo me vi obsceno de cabelo seco, um hippie dançando rap e sendo “happy”... Acordei e reparei que o sonho era bom – talvez até ótimo – pois nele eu estava feliz, realizado, dançando e festejando; penso eu que quando se está alegre a gente se pega dançando e cantando sem saber o porquê, meio – ou inteiro – “Olhos nos olhos” do Chico.
André Anlub