Tarde de 7de maio de 2015
Hei de entender o ser humano; mas vou deixar novamente para o outro outono, senão acabo por desistir. Um tímido e velho amigo encontrou-me no meu bar preferido, apertou-me a mão e bebeu lentamente o seu forte drink. Saiu deixando uma untuosa gorjeta; pagou com uma nota de dez e não quis troco... De repente devia dinheiro por lá.
Fiquei eu cá, tomando minha cerveja e pensando: a consciência limpa é o melhor elixir.
A torneira gotejava sua goteira de sempre sobre pratos sujos e talheres tortos de cabo de plástico colorido, rachado ou com marca de queimado. Assim era o “pé sujo” (mas limpo) bar do Gilberto. É, esse mesmo, “o meu preferido”. Houve época que eu batia meu ponto por lá toda semana. Comia meu espetinho das dezenove horas, às vezes camarões médios – às vezes linguiças de frango e porco –, eu adorava aquele ambiente sereno, de canto de rua, de canto de pássaro, de silêncio de música e poucas palavras. Havia mesmo era muito barulho dos caminhões que por lá perto passavam... Mas não era nada demais. Gilberto não é muito de trocar ideias, é repetitivo nas perguntas e curto em respostas, mas é um excelente ouvinte, ótima pessoa, muito honesto; sujeito agradável, extremamente simples e muito rico. Dono de duas enormes chácaras e uma camionete importada que usa para carregar seus suprimentos e engradados de bebidas. Mas eu não soube de sua riqueza pela ostentação dele, tampouco saiu na revista de fofoca, jornais ou afins. Soube em uma roda de viola (o amigo que deixou escapar nem imaginava que eu o conhecia)... Com o tempo e o aumento de nossa amizade fiquei sabendo da própria boca dele – mas nada, absolutamente nada, mudou –, até a vodca barata e terrível que ele vende continua a mesma... (e eu sempre levo de casa a minha vodca importada). Hei de entender o ser humano; mas os que são simples e amigos se fazem por entender até sem querer.
André Anlub