Colheita do Bem
Quando o dia acabou e nos encontramos no topo da montanha sem nenhum centavo aprendemos a fazer poesia das estrelas.
Quando o mar se abriu com a janela e a água azul invadiu nossos olhos, aprendemos a rir na areia.
E quando o vinho se tornou escasso e os países distantes, soubemos tirar proveito das tardes perfumadas nos jardins de casa.
Assim é a nossa estrada. Às vezes cegos, às vezes procurando enxergar.
Deixar de lado, como uma espécie de roupagem inútil, a crença na felicidade baseada em dígitos e bancos de esperança; em promessas de plenitude na prosperidade de números e contas.
E então ver com olhos verdadeiros, aqueles que garimpam e cutucam e cavam e esmiúçam e por fim percebem cores, detalhes, formas e enlevo... Como uma gargalhada gostosa, totalmente despretensiosa ecoando livremente em um lugar qualquer, com quase nada, exceto talvez, leveza e gratidão.
Descansar em sombras que admitem livros sem cobrança, sem relógio marcando o passo, sem compromissos infindáveis que geram ansiedade, culpa, vazio, mau humor...
Bolinho de chuva, bolo assando, cheiro de cera no chão...
Quem sabe mais um livro, um novo quadro feito com colher, mais poesia, grama verde, abelhas e olhos, aqueles olhos que dizem tanto...
E no meio desta promessa em tom de profecia, esquecer o dragão do tempo que quer para si, nossos sonhos, planos e sorrisos.
Na colheita, nada de posses vazias, apenas uma vida longa e tranquila...
Ser útil, ser bom.
E sempre, ter o bem como religião.
Eis a minha proposta. É simples, mas tem riqueza, e esta riqueza sim, é de verdade.