SEGUINDO

Olhando para trás ela não consegue acreditar que tenha chegado até ali. O caminho não foi nada fácil, e boa parte dele também não foi agradável.

Pés feridos pelos espinhos no caminho; joelhos esfolados pelas inúmeras quedas; mãos calejadas pelo peso da bagagem que carrega; olhos inchados e molhados por lágrimas de amarguras, tristezas e decepção.

Ela não está caminhando agora. Decidiu parar um pouco, descansar. Não consegue dar mais nenhum passo e nem sabe ainda para onde ir. Bebe um pouco de água buscando algum alívio. Não tem forças para continuar. Nem vontade. Por isso está sentada à beira do caminho, embaixo de uma pouca sombra que encontrou. E assim, olha para trás, para o caminho que já passou.

Os sons que a faziam dançar com as borboletas estão tão distantes que já nem podem ser ouvidos. Tudo agora é silêncio e o sol não aquece como antes. As flores são raras, a beleza pouca.

Lembra-se dos atalhos, dos caminhos tortos, dos espinhos que deixaram cicatrizes, dos buracos que a derrubaram, da dificuldade de seguir, de retornar, do medo do incerto, o arrependimento, o choro. Ainda agora, lembrando de tudo o que passou, sente seu coração disparar apertado, consegue sentir novamente toda a dor vivida nesses momentos, nesse trecho do caminho.

Esforça-se para lembrar das flores, do perfume agradável, das músicas alegres, das danças, das promessas. Mas as imagens que lhe aparecem são confusas e embaçadas. E os sentimentos bons que esse trecho do caminho lhe causou não passam de uma vaga lembrança.

– Engraçado como a dor devora a alegria – pensa consigo, esboçando um sorriso amarelo. Não há ninguém para compartilhar esse pensamento, nem o sorriso.

Olha para o chão e deixa escapar uma lágrima solitária. Não consegue chorar tudo o que tem vontade. Apenas uma única lágrima tímida cai aos seus pés, manchando a terra seca.

Ela sabe que precisa continuar, mas não quer. Não sente vontade de seguir em frente, mas não pode voltar atrás. Tenta olhar para o caminho que ainda lhe resta, mas não consegue defini-lo. Seus olhos estão cansados e não enxergam além de poucos passos. Seus pés estão feridos e se recusam a caminhar. A bagagem é pesada, mas ela não consegue simplesmente abandoná-la. A bagagem está em seu coração e sua mente.

Com pouca vontade e muito esforço, levanta-se. Tenta ajeitar o vestido rasgado e sujo, sacudir a poeira da estrada. Ergue a cabeça em direção ao caminho incerto e desconhecido. Espera que haja surpresas boas e agradáveis, quem sabe até flores, ou talvez um fruto doce e cheiroso. Talvez seja melhor não esperar muita coisa, pois assim não se decepcionará novamente.

Lamede Sarah
Enviado por Lamede Sarah em 06/07/2015
Reeditado em 14/07/2015
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