Sempre houve amor no vento
Olha só o que aconteceu com aquele menino... Aquele dos pés descalços e olhos arregalados a engolir as fatias grossas de pão com chá.
Se alguém me contasse eu não acreditaria o que fez o mesmo moço. O da farda azul no corpo espichado e magro a equilibrar a boina preta e os olhos de indagação.
Pergunta lançada no mesmo ar que balançava os cabelos de corda.
Tempos depois ele seria o homem a ter poder sobre os filhotes de um cãozinho qualquer e, para sempre, sobre o verde dos olhos.
E nos anos que vieram e se fizeram em muitas fardas de várias patentes, ele, dia após dia fez valer os sonhos do menino das armas de brinquedo e das aulas do fundo do quintal.
Veja bem a história deste homem.
Terá ele sabido da responsabilidade que tinha sobre minha crença?
Certeza incorruptível ante tanta história vazia de vida, entre tantas lágrimas pelo silêncio no meio da tarde?
Dele, fiz poesia nas noites insones de chuva no telhado.
E teci encantos sobre encantos com os detalhes de cada olhar de espanto nos encontros inexplicáveis que regiam o êmbolo sem nome por medo de se falar em amor.
De tanto escrever poemas sobre ele e para ele, deles também me apaixonei.
Fiz do livro das chuvas inquietas da minha espera o passaporte e o convite para o abraço de todas as noites e manhãs.
No mesmo vento que tantas vezes ouviu minhas indagações, lancei por fim minhas palavras, a última chance... Uma única resposta que caberia em meio a minha teimosia.
Olha só, veja você o que se fez daquele menino.
Um dia a correr pelas areias escaldantes da cidade das ruas largas e vazias.
No outro a me inspirar para novos poemas em páginas de sonhos escritos, agora, a quatro mãos.
E se um dia me perguntassem se eu poderia prever esta história, a resposta seria "sim".
Em qualquer tempo.
A mesma chuva que cantava a sua ausência, trazia também a música das esferas que sempre reforçou a minha fé e em todos os momentos fortaleceu o meu amor.