Iluminação

O viajante cansado fita o rio imenso que 
se estende no horizonte. Parece estender-lhe
os braços convidativos.

Num ínterim de iluminação suspira
fundo, um cansaço sofrido e doloroso
trazendo em si toda uma vida de batalhas, 
cicatrizes e sofrimentos.

Num ínterim de iluminação, antes do cansaço
lhe tomar a alma, reflete sobre a paz 
interior que vem sentindo. Abraça 
com alegria a solidão da viagem
e despreza o sentimento de ingratidão e 
desencontro.

Num ínterim de iluminação, busca a 
grama banhada pelo Sol do fim de tarde, 
aquecida pela vida que explode do astro 
que acaricia de amarelo o verde reluzente. 
Sente cheiros que por décadas não sentia invadindo 
suas narinas e trazendo lembranças da infância.
Ouve coisas que antes não ouvia, lembra dos
amores que viveu e desiste, enfim, daqueles
que nunca teve coragem de buscar.

Nesse ínterim de iluminação, o viajante
deita na grama quente, sente as carícias de 
seus pequenos braços, vira criança acolhida no 
colo materno, suspirando de gratidão
pelo aconchego.

Nesse ínterim de iluminação, com lágrimas 
escorrendo frouxas pela face, 
o viajante fecha os olhos,
para sempre.