Não têm o mesmo gosto...

A nostalgia de fim da tarde gelada, onde
o Sol amarelo se esconde preguiçosamente
atrás dos morros no horizonte. O poeta cansado
de pensar, exausto de poetizar, apenas fita
o além, sem rumo aos pensamentos.

Num átimo de memória, desenrola-se
sua infância, viva, na mais tenra idade quando
a vida parecia mais colorida sem
as imediatas necessidades do adulto,
que hoje olha abismado para o tempo
que passou.

Lembra-se das brincadeiras inocentes
de outrora, quando a forma de vida mais singela
podia chamar atenção e entreter por horas
numa tarde gélida de inverno.

Avança com volúpia sobre as lembranças
daquele tempo onde tudo era mais simples e
menos urgente, mais completo e menos
delirante, mais calmo e menos solúvel...

Não têm o mesmo gosto...

Não têm o mesmo gosto as lembranças
comparadas ao viver. Perdidas ficaram para sempre
aquelas sensações, bem alí, onde
a inocência da vida morreu.

Por um momento imaginou que podia,
apenas mais uma vez, sentir o gosto da infância
tomar o coração, sentir a quentura da inocência
dominar-lhe a alma, sentir que ainda
era aquela criança.

Mas não... não têm o mesmo gosto...