MORTE PARA OS QUE FICAM
Eu nunca pensei tanto na morte, como agora.
A saudade que permeia a morte é um abismo.
É sobre ela que preciso falar.
A saudade está entre a vida e a morte. Mas a saudade não morre. Só deixa de existir na presença.
Para o que segue, não tenho palavras.
Para mim, que fica, digo que é ver o mundo sem brilho. São as coisas fora do lugar. É o perfume ainda no ar. É o abraço sedento de realidade. É o lugar no sofá.
Aprendi a superar a morte. A morte de quem amo. Até mesmo porque a morte sempre fez sentido para mim. Acredito na morte como vida. A morte para mim não é problema.
Porém, nunca me ensinaram a superar a saudade. A saudade de quem amo. Isso sim me provoca. Não me importam, agora, os porquês, as teorias, as explicações... são passado. O que me importa é superar esta dor que parece não ter fim.
A saudade é, ora uma dor pontiaguda no meio do peito; ora é uma dor que se reflete em todo o meu corpo. É a lágrima que desce lentamente dos olhos no dia sombrio. É o vazio preenchido pelas boas lembranças. É falta do ar.
Agora sou como um vaso, que mesmo capaz de abrigar a vida, mesmo capaz de ser enfeitado com a mais bela flor, mesmo desenhado com os mais belos riscos e enfeites, sou apenas um vaso, quando vazio, mais frágil.
Então, não me resta mais nada além de tentar me manter cheia. E preencher meu eco com música boa. E ter minha face como espelho, refletindo a felicidade alheia. E ter meus lábios, antes coloridos, agora emitindo sons suaves aos ouvidos de quem quer que seja. E ter meu corpo andando por caminhos desejosos, que dariam orgulho a quem a morte levou. E ter meus pensamentos retos. E ter meus ouvidos sensíveis às ondas mais sublimes.
Prefiro encarar a saudade assim, agindo em toda oportunidade. E quando não há, inventá-la. Porque a saudade não vai embora. A saudade só aumenta. A saudade já mora.